Segmento MICE no Brasil

O mercado de eventos está em plena expansão no Brasil. Entre 2003 e 2014, os congressos e convenções de negócios internacionais realizados no país registraram um aumento de 369%


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O mercado de eventos está em plena expansão no Brasil. Entre 2003 e 2014, os congressos e convenções de negócios internacionais realizados no país registraram um aumento de 369%. Desde 2006, o Brasil está no ranking dos dez países que mais sediaram eventos internacionais.Confira a entrevista exclusiva com Marco Antonio Lomanto, diretor de Produtos e Destinos da Embratur sobre o segmento MICE no Brasil.

EBS News: Como surgiu o conceito MICE no Brasil?

Marco Lomanto: O turismo de Negócios e Eventos, como é comumente conhecido no Brasil, começou a ganhar destaque com a implementação do processo de segmentação e após uma forte atuação na promoção turística. Remontando ao passado, vemos que o Brasil conquistou experiências importantes no cenário internacional com a realização da Rio 92 e das diferentes edições do Fórum Social Mundial, que deram prestígio e contribuíram positivamente na captação de encontros internacionais. Desde 2003, quando a Embratur passou a se dedicar exclusivamente à promoção do Brasil como destino turístico no exterior, temos acompanhado mudanças significativas nesse mercado, como a realização de megaeventos esportivos. Estes avanços foram fundamentais para ampliar investimentos em infraestrutura e na qualificação dos destinos para receber eventos no Brasil, além de terem colaborado fortemente para a profissionalização dos agentes envolvidos.

EBS News: Como o sr. vê o Brasil no MICE? É promissor? Porquê?

Marco Lomanto: Vejo o mercado de eventos em plena expansão no Brasil. Entre 2003 e 2014, os congressos e convenções de negócios internacionais realizados no país registraram um aumento de 369%. Desde 2006, o Brasil está no ranking dos dez países que mais sediaram eventos internacionais. Percebemos também que há uma diversificação das sedes brasileiras. Em 2003, 22 cidades brasileiras receberam eventos internacionais.

Em 2014, esse número subiu, quando 61 cidades entraram no ranking ICCA. Foi uma evolução excelente, de 177%. Dados da GBTA ainda indicam que o Brasil atualmente detém o oitavo maior mercado de viagens corporativas no mundo, com chances de ultrapassar a Coreia do Sul ainda este ano. Esses números mostram que temos estrutura e capacidade para realizar grandes eventos em vários pontos do Brasil e que os organizadores estrangeiros estão escolhendo o nosso país como destino para abrigar e conduzir os seus projetos. O MICE brasileiro nunca foi tão valorizado e as perspectivas de crescimento são extremamente promissoras.

EBS News: O Brasil está preparado para o segmento MICE?

Marco Lomanto: Certamente. O mercado de eventos em nosso País cresce por volta de 14% ao ano. Existem mais de 60 mil empresas que organizam feiras, congressos e exposições. São 9.445 espaços para eventos em todo o País. Temos avançado para ampliar investimentos em infraestrutura e qualificar destinos brasileiros para receber eventos. Não podemos esquecer que realizamos, com grande sucesso, a Copa do Mundo FIFA 2014. Em virtude da realização do campeonato de futebol, foram contratados R$ 27,1 bilhões em infraestrutura, compreendendo investimentos em estádios, portos, aeroportos, mobilidade urbana, segurança, telecomunicações e turismo. Políticas na área de energia, hotelaria, qualificação e promoção também foram potencializadas pela Copa proporcionando benefícios ao setor de turismo de eventos. Esse é um mercado em crescimento e que vem se fortalecendo muito na última década. Agora, para os Jogos Olímpicos, há uma ampliação de investimentos para melhorias no setor turístico, avanços nos programas de qualificação e aperfeiçoamento de produtos e serviços para recebermos mais de 300 mil turistas estrangeiros. Serão, pelo menos, 422 novos empreendimentos de hospedagem, com incremento de 70.531 quartos no parque hoteleiro nacional até 2016. São intervenções como essas, que contribuíram para a elevação do Brasil em mais de 30 posições no ranking de competitividade do turismo.

EBS News: Qual a sua importância para a economia no turismo?
Marco Lomanto: Os eventos aquecem a cadeia do turismo de negócios por todo o Brasil, com movimentação de R$ 209,2 bilhões, o que representa uma participação de 4,32% do PIB do país. É responsável por mais de 7,5 milhões de empregos diretos, indiretos e terceirizados na economia nacional, o que se traduz em renda para uma importante parcela da população. Ainda, contribui com R$ 48,69 bilhões em impostos arrecadados.

Vale lembrar que os turistas de Negócios e Eventos gastam em média US$ 329,39 por dia no Brasil, número 4 vezes maior que as despesas dos visitantes internacionais que visitam o País em viagens de Lazer. Além disso, 25% dos turistas que chegam ao Brasil vêm a negócios e eventos, o que demonstra a importância do setor para o País. A captação de eventos traz divisas, estimula investimentos e é um dos setores que mais cresce na economia nacional.
EBS News: No Brasil, o conceito MICE no mercado é familiar?

Marco Lomanto: Esse é um conceito forte em todo o mundo. A sigla internacional M.I.C.E (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions), popularmente conhecida no Brasil como Turismo de Negócios e Eventos e entre nossos vizinhos latino-americanos como Turismo de Reuniones, é um dos segmentos mais importantes e que dão vitalidade para a economia turística do País, ocupando as primeiras posições entre os que mais aumentaram em termos de faturamento nos últimos anos. Este tipo de turismo é tido como uma das soluções para questões de sazonalidade e utilização da infraestrutura e serviços turísticos em baixa temporada, além de esquentar a economia local das cidades que recebem este tipo de turista. Mas, é importante ressaltar que, quando se fala em MICE, estamos tratando de um público específico, o mundo empresarial. Nesse rol de executivos e gestores de empresas, o segmento é muito bem recebido no Brasil.

EBS News: Quais ações a Embratur vem trabalhando para difundir e impulsionar o segmento MICE no Brasil? E para os próximos anos?

Marco Lomanto: Temos um forte compromisso em fomentar o turismo de negócios no território brasileiro, possibilitando maior número de eventos e permanência desses turistas no País. Incentivamos a diversificação dos destinos que sediam eventos internacionais e organizamos uma série de ações para promover o País como sede qualificada na realização de eventos. Dentre os quais, posso citar o Programa de Apoio à Captação e Promoção de Eventos Internacionais, onde fornecemos apoio diretamente aos projetos no exterior que busquem tornar o Brasil a sede de encontros que atraiam o turista de eventos internacionais e de competições esportivas. Ainda, promovemos workshops e rodadas de negócios em países estratégicos, para apresentar o Brasil como destino potencial de eventos. Participamos das principais feiras focadas no mercado MICE e disponibilizamos uma plataforma digital voltada exclusivamente para este segmento, para empresas, instituições e turistas. Ainda, aplicamos uma política de descentralização na captação de eventos internacionais, que vem contribuindo para o aumento no número de cidades que sediam eventos. Também estamos investindo na parceria-público privada para atender às demandas do setor.

O momento que o MICE se encontra no Brasil é o resultado de um trabalho feito em parceria entre o Governo Federal, os governos estaduais, as prefeituras e os empresários, por meio dos CVBx, entidades corporativas, confederações e federações esportivas. As ações do Governo, juntamente com a iniciativa privada, colocam o País em um novo patamar, especialmente com os eventos globais, como os Jogos Olímpicos.

EBS News: Na sua opinião, o que ainda falta para esse mercado? Temos capacidade para abrigar eventos e congressos de todos os portes? Porquê?

Marco Lomanto: Somos um destino preparado para receber eventos internacionais de diversos portes e perfis. A indústria de eventos vem se fortalecendo no Brasil. É um setor muito organizado, que conta com o envolvimento de milhões de pessoas. Além disso, existe o suporte de entidades sérias e renomadas, que estão extremamente comprometidas com o desenvolvimento deste segmento no mercado nacional. Estamos no top 10 do ranking mundial da ICCA, entre os países que mais recebem eventos de negócios no mundo. Se tratando das Américas, o Brasil ocupa a segunda posição, atrás apenas dos Estados Unidos, e é o primeiro colocado na lista das nações da América Latina que mais recebem eventos do segmento MICE.

O setor está cada vez mais preparado para atender o mercado nacional e internacional, mas pode crescer mais. O Brasil ainda tem muito a avançar no turismo de negócios e eventos, principalmente no que se refere a infraestrutura. É necessário trabalhar com mais afinco a qualificação do setor e o aperfeiçoamento profissional. Precisamos avançar na melhoria dos nossos equipamentos, para que atinjam o padrão internacional. O mundo está cada vez mais globalizado e conectado, priorizando cada vez mais o turista de negócios. A modernização destes espaços fará com que o Brasil atraia mais eventos internacionais e melhore ainda mais seu posicionamento no ranking da ICCA.

EBS News: Em relação às Olimpíadas, quais são as expectativas? E após?
Marco Lomanto: As expectativas são muito positivas. Acabamos de realizar a Copa do Mundo, quando reafirmamos a boa infraestrutura do Brasil para realizar eventos de grande porte. Estamos comprometidos em realizar uma excelente Olimpíada e Paralimpíada. A Embratur está dedicada a desenvolver estratégias de atuação em ações voltadas para a promoção dos Jogos. Entre o segundo semestre de 2015 e o primeiro de 2016, realizaremos o Visit Brasil Olympic, um projeto de eventos específicos de promoção e captação de investimentos em mercados prioritários. Temos que envidar esforços para aumentar o número de visitantes internacionais por todo o País. Além de divulgar o Rio e as demais cidades-sedes de futebol, também serão promovidas localidades próximas, por meio de roteiros integrados. Estimamos que mais de 300 mil estrangeiros venham assistir ao campeonato. Após a Rio 2016, temos que aproveitar a grande repercussão e o ganho de imagem com os megaeventos internacionais para consolidar o Brasil como um dos maiores receptores de eventos do mundo.

Fonte: Redação